Prezados irmãos e irmãs da Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí: No “Credo” confessamos a Igreja de Cristo ser una, santa, católica e apostólica. Estas quatro qualidades, inseparavelmente ligadas entre si, “indicam traços essenciais da Igreja e de sua missão” (Catecismo da Igreja Católica, n. 811). É o próprio Cristo que, pelo Espírito Santo, dá à sua Igreja o ser una pela mesma fé e caridade; santa pela presença e atuação do Espírito Santo em seu meio; católica pelo seu mandato missionário destinado a todos; e apostólica, pois é fundada sobre a fé dos Apóstolos.
A fé, sendo a resposta livre e pessoal ao amor de Deus que se revela, não pode ser um ato isolado. Assim como ninguém deu a vida a si mesmo, a fé de cada cristão é “como um elo na grande corrente” dos que creem (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Portanto, se eu afirmo: “Eu creio” professando pessoalmente a minha fé em Deus e na sua Igreja, devo também afirmar: “Nós cremos”, pois fazemos parte da comunidade que crê em Jesus. É esta fé professada pessoal e comunitariamente que garante a unidade da Igreja.
Portanto, “eu creio… nós cremos” na Igreja una: porque Deus Uno e Trino – a mais perfeita Comunidade – é o princípio e modelo da unidade da Igreja; porque Jesus Cristo, por sua Morte e Ressurreição, uniu todos em um só Povo, um só Corpo; porque é o Espírito Santo que habita nos que creem, realizando esta admirável comunhão de fé e amor entre si e com Deus.
Queridas irmãs e irmãos diocesanos: o Concílio Vaticano II afirma claramente que “a única Igreja de Cristo (…) é a que nosso Salvador, depois de sua Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor (Jo 21,17) e confiou a ele e aos demais Apóstolos propagá-la e regê-la. (…) Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele” (Constituição Dogmática Lumen Gentium (“Luz dos povos”), n. 8b).
Infelizmente, nesta uma e única Igreja de Deus, já desde os seus inícios surgiram divisões, rupturas e graves erros doutrinários. Os antigos escritores da Igreja dos primeiros quatro séculos – muitos dos quais eram Bispos – chamados de “Santos Padres”, trataram longamente esta questão das divisões da Igreja. Por exemplo, São Cipriano, Bispo de Cartago (África), martirizado por sua fé em Cristo, em 14 de setembro de 258, aludindo à túnica que vestia o corpo de Jesus crucificado na cruz e que não foi rasgada pelos soldados romanos (cf. Jo 19,23-24), assim afirma: “Como lemos no Evangelho, ela (a túnica de Cristo) não foi dividida, nem de modo algum, rasgada, mas sorteada. Isto quer dizer que quem toma a veste de Cristo e tem a dita de se revestir do próprio Cristo (cf. Rm 13,14; Gl 3,27), deve receber a sua túnica toda inteira e possuí-la intacta e sem divisão. (…) Não pode possuir a veste de Cristo aquele que rasga e divide a Igreja de Cristo. (…) O povo de Cristo não pode ser dividido… Ficando uma só, bem firme na sua contextura, (a túnica de Cristo) mostra a união e a concórdia do nosso povo, isto é, daqueles que são revestidos de Cristo” (A Unidade da Igreja Católica, Ed. Vozes, 1973, pp. 36-37).
Queridas irmãs e irmãos diocesanos: deixando ao Deus Justo e Misericordioso o julgamento do coração humano (cf. 1Sm 16,7; Jo 7,24), após um dos nossos presbíteros deixar a Igreja Católica para filiar-se a uma “outra família de fé”, muito me confortou a Palavra de Deus. Meditei profundamente passagens bíblicas como estas:
1. Mt 26,38: “Então (Jesus) lhes (Pedro, João e Tiago) disse: ‘Sinto uma tristeza mortal! Ficai aqui e vigiai comigo!’” −A oração de Jesus no Getsêmani na sua agonia: É preciso vigiar com Cristo nesta hora tão desafiadora para a nossa Igreja Particular.
2. Jo 6,67ss: “Jesus disse aos Doze: ‘Vós também quereis ir embora?’”. Muitas vezes achamos tão difícil a Palavra de Jesus e da Igreja (cf. Lc 23-26: “Tomar a cruz cada dia e seguir Jesus”). Como Pedro, professemos nosso amor ao Senhor, dizendo: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,68-69).
3. Rm 16,17-18: “Rogo-vos, irmãos, acautelai-vos dos que provocam dissensões e escândalos, contrariando o ensinamento que aprendestes; afastai-vos deles. Esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, mas ao próprio ventre. Com um palavreado bonito e lisonjeiro, enganam os simples”. Cuidado! Não crer em qualquer doutrina: “Pois bem, mesmo que nós ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja excluído!” (Gl 1,8).
4. 1Cor 16,13-14: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos, sede fortes e o vosso proceder seja todo inspirado no amor”. Como o fogo comprova a pureza do ouro (cf. 1Pd 1,7), permaneçamos firmes na fé e no amor.
5. Jo 17,21: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste”: Peçamos ao Senhor a graça de reencontrar a unidade de todos os cristãos que é dom de Cristo e convite do Espírito Santo.
6. Hb 12,1: “Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta”: sejamos fiéis aos que nos precederam na fé nestes 49 anos da caminhada da nossa Diocese.
7. Lc 6,36: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”: Neste Ano da Misericórdia, sejamos, acima de tudo, misericordiosos. Precisamos tanto da misericórdia, porque a humanidade é ferida, é “uma humanidade que possui feridas profundas. Não sabe como curá-las ou acredita que não é possível curá-las. (…) Falta a experiência concreta da misericórdia. (…) Precisamos de misericórdia” (Papa Francisco, O nome de Deus é misericórdia, Ed. Planeta, pp. 45-46).
Que Maria, Mãe da Misericórdia, interceda pela nossa Igreja.
E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa Bispo Diocesano
Fonte : www.dj.org.br