50 anos: Dom Gabriel Paulino Bueno Couto

Primeiro Bispo Diocesano (1967 – 1982)

Coube a Dom Gabriel colocar as bases sólidas da nova Igreja Particular, dentro do mais autêntico espírito do Concílio Vaticano II (1962-1965), do qual ele fez parte como padre conciliar em todas as sessões. Organizou os Conselhos Presbiteral e Administrativo, várias pastorais e fundou o Seminário Diocesano a 6 de janeiro de 1980. Homem culto, de grande santidade pessoal, Dom Gabriel investiu na formação de leigos, com o objetivo de “dar Cristo a quem não O têm e dar maior consciência de Cristo àqueles que já O têm”. Para isso, deu amplo apoio aos movimentos laicais, principalmente ao Cursilho de Cristandade e às organizações evangelizadoras da juventude que ele mesmo fundou, fontes exuberantes de leigos engajados nas ações pastorais e na vida da Igreja em geral. Também criou o Curso de Teologia para Leigos, em Jundiaí e em Itu, importante instrumento para a formação de leigos. Dom Gabriel deixou aos seus padres e a seus diocesanos em geral um elevado exemplo de vida santa e amorosa à Igreja.

Tramita na Congregação das Causas dos Santos, em Roma, o seu processo de canonização.

Dom Gabriel

Invejo saudavelmente os que tiveram a graça de conhecer pessoalmente Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, OCarm. Quando ele faleceu, em 11 de março de 1982, com seus 71 anos de idade, estava eu ainda no início da minha infância. Mesmo não tendo convivido pessoalmente com ele, prefiro falar o que sua figura representa em minha vida; o que representa para os ituanos; o que representa para a Igreja Católica.

Ainda adolescente, lembro-me de quando vi pela primeira vez uma foto do nosso primeiro Bispo Diocesano. Que homem franzino! Uma magreza que adiantava sua fragilidade física. Minha admiração só aumentou à medida que fui conhecendo sua história e sua obra. “Quando sou fraco é que sou forte”, diria ele parafraseando o apóstolo Paulo.

O jovem Gabriel Paulino sempre se destacou pela fé que trazia no coração e por sua piedade. Quando deu asas à vocação sacerdotal, ingressando no Seminário, não foi uma surpresa para os que o conheciam. Abrigou-se sob o manto da Virgem do Carmo para tornar-se um baluarte do nosso clero, um verdadeiro santo.

Ordenado em Roma, no ano de 1933, ficou na Itália estudando e exercendo funções na Ordem Carmelitana até 1946, quando foi nomeado Bispo Auxiliar de Jaboticabal. Nesses anos europeus é que adquiriu a terrível tuberculose, o que lhe fez viver os anos seguintes com apenas um dos pulmões. O corpo, frágil. A alma, cada vez mais forte.

A partir disso Dom Gabriel jamais respirou normalmente, como consegue qualquer um de nós. E desde então ele dedicou mais ainda todo o seu fôlego, todo o seu intelecto, toda sua alma e seu coração ao Reino de Deus, levando Cristo para quem não o possuía e tornando conscientes de Cristo aqueles que já o tinham.

Outras cidades tiveram a chance de respirar o mesmo ar santo de Dom Gabriel Paulino: Curitiba(PR), Taubaté(SP), São José dos Campos(SP), São Paulo(SP) e Jundiaí(SP). Foi um ituano o primeiro Bispo da Diocese criada em 1967.

Uma pessoa nunca morre se deixa exemplos dignos de lembrança e admiração. Por isso Dom Gabriel partiu, mas não morreu. Continua vivo na memória de muitas pessoas, mesmo após 35 anos do seu passamento.

Foi homem culto, mas com a inteligência dos simples. Foi homem de razão, mas com a sabedoria dos místicos. Foi homem de fé, de esperança e de caridade, mas sem deixar de proclamar suas profecias para a sociedade, cada vez mais atribulada pelas modernidades.

Foi homem das Letras e homem das Artes. Escreveu poemas, diversos livros e orações. Pintou quadros e fez esboços. Fez da sua vida e vocação uma verdadeira obra-prima, daquelas que o Criador certamente deve se orgulhar em ter criado.

Ouvi muitas histórias sobre Dom Gabriel. Em todas, os interlocutores concluíam dizendo: “Era um santo em vida”. Viveu radicalmente a pobreza, a obediência e a caridade. Radical como o próprio Cristo, que entregou a vida no madeiro.

Li e reli muitas coisas sobre Dom Gabriel Paulino. Duas de suas máximas ficaram impressas no meu coração, por pura identificação pessoal.

A primeira:

“Odiar uma coisa é muito grave, porque é destruí-la. O ódio atinge as aparências e a essência…O amor constrói. Amar é querer a realização do outro. Amar é aderir à realidade do outro”.

E a outra:

“Voto de pobreza é para libertar a alma, para que ela possa se unir mais a Deus. Se somos pobres, em Cristo somos ricos, porque a pobreza sem Cristo é miséria e em Cristo é libertação”.

Aos olhos de Deus somos apenas o que somos: eis a nossa verdadeira identidade.

Dom Gabriel foi a primeira luz refletida do próprio Cristo para iluminar a então recém-nascida Diocese de Jundiaí. Essa luminosidade ainda nos ilumina e há de atravessar os séculos.

Seminarista Salathiel de Souza

Fonte: www.dj.org.br
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